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A Figura Enigmática de Nicolas Flamel
🔥 Alquimia Operativa | News #030

Ao lado de Fulcanelli (de quem ainda haveremos de abordar), Nicolas Flamel figura entre os alquimistas mais célebres e, paradoxalmente, mais enigmáticos.
Sua fama não provém apenas da lenda, mas também de obras concretas de caridade, financiadas por uma fortuna cuja origem permanece envolta em mistério.
Oficialmente, era apenas um humilde escrivão, ofício digno, mas incapaz de justificar os vultosos recursos com que erigiu hospitais e igrejas por toda Paris.
A publicação de seu Livro das Figuras Hieroglíficas, no qual relata três transmutações operadas com a Pedra Filosofal, fez com que muitos de seus contemporâneos associassem sua riqueza a uma origem alquímica.
Importa recordar que, àquela altura, a prática da Alquimia era proibida na França, e seus adeptos, perseguidos.
Um abade, escandalizado com a ideia de que um fiel devoto fosse tido por praticante de "artes diabólicas", redigiu uma biografia tentando provar que a fortuna de Flamel não provinha de meios sobrenaturais.
No entanto, o próprio epitáfio de Flamel parece contradizê-lo:
"O falecido Nicolas Flamel, outrora escrivão, deixou para a obra desta igreja certas rendas e casas, que adquiriu e comprou enquanto vivo, com o fim de certos serviços divinos..."
Nesta edição:
🐍 O Livro Velado e os Mistérios de Abraham

“Caminhar com os sábios do passado é escutar os ecos de verdades eternas.”
Mesmo em vida, e ainda mais após a morte, Flamel tornou-se personagem de numerosas lendas.
De sua biografia histórica, pouco se pode afirmar com segurança.
Presume-se que tenha nascido em 1330, na cidade de Pontoise.
Na juventude, fixou-se em Paris, onde exerceria o ofício de escrivão na Rua dos Escrivães, nas proximidades do Cemitério dos Inocentes.
Com o advento da peste de 1347, o local tornou-se inabitável, obrigando-o a mudar-se para os arredores da Igreja de S. Jacques de la Boucherie.
Este templo, consagrado a São Tiago, torna-se figura central em sua narrativa simbólica.
Em 1358, ocorre o ponto de inflexão em sua jornada: Flamel adquire um manuscrito singular, intitulado Livro de Abraham, o Judeu, descrito como sendo de material vegetal, com imagens simbólicas e caracteres indecifráveis.
As páginas internas, dispostas em grupos de sete, continham gravuras e inscrições místicas.
O livro tratava de Cabala e Alquimia, revelando as etapas da Obra, excetuando-se o segredo supremo: a prima materia.
🔮 Da União à Peregrinação Iniciática

“O verdadeiro casamento é a união da alma com sua natureza divina.”
Flamel dedica-se por anos ao estudo da misteriosa substância.
Nesse interregno, casa-se com Dame Perrenelle, viúva de recursos discretos, que passa a financiar suas buscas herméticas.
Em 1379, ambos partem para uma peregrinação à Compostela.
No retorno, encontram Mestre Canches, judeu versado nas ciências ocultas, que aceita instruí-los.
Infelizmente, Canches falece pouco após chegar a Paris, deixando a semente da revelação plantada.
É em 1380 que Flamel inicia, efetivamente, suas práticas alquímicas.
Curiosamente, esse é também o ano em que o rei Carlos V proíbe oficialmente a busca pela transmutação dos metais, reforçando o caráter clandestino de tais buscas.
A partir de 1389, a fortuna de Flamel se torna visível: igrejas, hospitais e cemitérios são construídos, decorados com iconografia enigmática.
Os símbolos contidos no Livro de Abraham passam a ornamentar o Cemitério dos Inocentes, mesclados com imagens da própria experiência do alquimista.
Em 1397, Perrenelle falece sob circunstâncias nebulosas.
Dois anos depois, Flamel publica o Livro das Figuras Hieroglíficas.
Seguem-se O Sumário Filosófico (1409) e o agora perdido Saltério Químico (1414).
Três anos depois, em 1417, Flamel desaparece.
Morre, segundo uns; inicia sua reclusão, segundo outros.
🌍 A Lenda do Imortal

“A morte é apenas o portal da transformação. Os que venceram o tempo não são tocados por ela.”
Em 1712, Paul Lucas relata, em suas viagens, o encontro com um dervixe na Turquia que afirma que Flamel ainda vive.
Segundo o sufi, ele e sua esposa fingiram a morte, adotando vida secreta em terras distantes.
A ideia de Adeptos que, ao cumprir a Obra, ocultam-se sob véus de anonimato, é recorrente na Tradição Hermética.
O epitáfio, a pirâmide, o sumiço: tudo parece compor uma encenação ritual, típica da ars dissimulatio dos Iniciados.
A transmutação metálica já foi demonstrada possível pela ciência moderna, ainda que de forma custosa e artificial.
O Elixir da Longa Vida, contudo, permanece envolto em névoas de mistério.
A tradição sustenta que apenas o verdadeiro Adepto, purificado em espírito, poderá tocá-lo.
Fulcanelli, em Moradas Filosofais, afirma que toda a narrativa de Flamel é uma alegoria espiritual.
O "livro" seria a própria prima materia – o "livro da natureza".
Flamel, portanto, não descreveria uma história literal, mas um mapa simbólico da jornada interior.
✨ A Linguagem dos Adeptos

“Tudo o que é nomeado torna-se compreensível. O nome revela a essência.”
Nomes e palavras são chaves na senda hermética.
Perrenelle pode ser lido como perre en elle – “a pedra está nela”.
Nicolas une nike (vitória) e laos (povo ou pedra).
Flamel, vindo de flamma (chama) e El (Deus), remete ao Fogo Divino, tal como o da sarça ardente de Moisés: aquele que queima, mas não consome.
Mestre Canches também é interpretado simbolicamente: seu nome viria de kananox (“seco”), aludindo ao enxofre.
Já Julius Peradejordi associa canche ao hebraico aphari, relacionado ao mês de abril, o tempo da bênção e do início da Obra.
Por fim, a palavra mercador, como observa Peradejordi, deriva de Mercúrio – Hermes, o psicopompo e alquimista arquetípico.
É ele quem preside a Arte, sendo o próprio nome dado à substância arcana: mercúrio filosófico.
Nicolas Flamel, assim, permanece não apenas como personagem histórico, mas como arquétipo do buscador.
Entre mito e realidade, sua vida é um convite à Obra.
Aos olhos profanos, deixou hospitais e epitáfios; aos olhos do Iniciado, legou o Fogo Sagrado e os enigmas da Luz Oculta.
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Fraterno abraço e até a edição #031!
- Daniél Fidélis :: | Escola de Alquimia e Esoterismo
Uma jornada iniciática pelas ciências herméticas que moldaram os grandes mestres.
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☉ Quem é Daniél Fidélis?
Autor do site Alquimia Operativa, fundador da Irmandade Hermética da Sagrada Arte, IHSA e professor no CFEC - Círculo Filosófico de Estudos Clássicos.
É orientador em diversas Formações em Alquimia e Esoterismo, entre outras áreas.
Dedica-se à Alquimia e ao Esoterismo desde a década de 90.
Em 29 de Maio de 2010, criou o nosso Instituto, dedicado à pesquisa e difusão do conhecimento Alquímico e Esotérico.
Trabalhou por 20 anos coordenando o tratamento físico-químico de efluentes industriais da Casa da Moeda do Brasil.
A partir de novembro de 2017, devido ao elevado número de alunos e ao tempo demandado à orientação, passou a se dedicar exclusivamente à Alquimia.